“Inauguração da escola industrial Marquez de Pombal”
Abriu-se ante-hontem a escola de desenho industrial, Marquez de Pombal, em Alcantara. Assistiu o sr. ministro das obras publicas, o inspector, varios professores e o sr Julio Pires representando as fabricas que n’aquelle bairro subsidiam a escola. Depois de terminada a lição o sr. Aguiar fez um eloquente discurso pondo em relevo a necessidade e as vantagens do ensino de desenho; disse o ministro que n’esta civilisadora missão tinha sido fortemente coadjuvado pelos srs. Moita e Vasconcellos, chefe da repartição de commercio e industria, Oliveira Martins, do Porto; Julio Pires, director da companhia de fiação e tecidos lisbonense, e pelo dr. Benevides, inspector das escolas industriaes; e pediu aos alumnos que conservassem sempre na lembrança o nome d’este ultimo como tendo sido quem tornára uma realidade o que aquelles haviam ideiado.
A escola tem 42 alumnos do sexo masculino, 30 nos cursos nocturnos e 12 nos diurnos, achando-se preenchidos todos os lugares, e muitos pedidos para as vagas que se produzirem.
Os cursos do sexo feminino contam 15 alumnas, 9 na classe diurna e 6 na nocturna.
A nossa escola, que começou por se chamar Escola de Desenho Industrial Marquez de Pombal, foi inaugurada no dia 17 de Novembro de 1884. Contou com a presença do Ministro das Obras Públicas, António Augusto Aguiar, do inspetor e de vários professores.
A Escola Secundária Marquês de Pombal (ESMP) situa-se em Lisboa e integra duas épocas e dois espaços distintos ao longo da sua já longa existência. Como organismo vivo, pode contar a sua História através das histórias daqueles que a fizeram nascer e a consolidaram, moldando-lhe o perfil e, daqueles que hoje, a par da indispensável renovação, a mantêm ou a procuram manter coerente com os pressupostos que lhe deram vida.
Em Janeiro de 1884, vinte anos após a criação do Ensino Industrial, por decreto-lei, foi dada ordem de constituir no país oito escolas de Desenho Industrial, três das quais em Lisboa, sendo uma delas em Alcântara. O currículo obrigava à aprendizagem do Desenho Elementar e do Desenho Industrial. Obviamente, estava em causa, o (re)lançamento da industrialização pós-fontista e que tem em António Augusto Aguiar, Ministro das Obras Públicas, o principal ideólogo.
Porém, só em 1888, sob o ministério de Emídio de Navarro, é inaugurado o primeiro espaço próprio da ESMP, no dia do 50º aniversário do Rei D. Luis I, abandonando as instalações provisórias de um prédio de aluguer, na Rua de Alcântara. Fonseca Benevides atribuíra-lhe o nome, na sua qualidade de Inspetor das Escolas Industriais, com a fundamentação de ligar simbolicamente ação e nome “daqueles que mais se desvelaram no progresso das indústrias e das artes”.
Este espaço definiu-se pelo gosto individualizante da sua conceção arquitetónica e funcional, expressamente elaborado de acordo com os fins a que se destinava e leva a assinatura do Arquiteto Pedro d’Ávila.
As novas instalações foram oficialmente terminadas em 2 de Dezembro de 1963, embora já estivessem ocupadas pela ESMP desde 9 de Abril de 1962. O projeto da autoria do Arquiteto António Pedroso (antigo aluno da Escola) reflete a gramática arquitetónica vincadamente homogénea das escolas construídas de acordo com as normas do Ministério das Obras Públicas de então. De notar, porém, que é até hoje, a escola secundária que abrange a maior área coberta e descoberta do país, o que denuncia os propósitos da política industrializadora dos anos sessenta, propósitos que passavam pelo ensino técnico e pela nova Escola Industrial, herdeira das tradições da de Alcântara.
Dependendo das intenções dos que frequentam os lugares, os estudiosos designam-nos por sagrados e profanos. O sagrado encerra algo de restritivo ao exterior, nesse sentido, carecendo de um conhecimento prévio da norma.
Indo ao encontro desta definição, dir-se-ia que, a ESMP alicerçada na raiz que a gerou dispõe de, pelo menos, quatro lugares carregados desse carisma, invulgares em outras escolas suas congéneres: a Sala do Conselho, a Sala-Museu, a Capela e a Biblioteca, todos eles a pedir rápida intervenção e conservação, em termos do seu património.
A Sala do Conselho, agora denominada Sala Prof. Filipe Artur Ramos Batista, é decorada por um conjunto de quadros a óleo onde figuram os Mestres da 1ª fase da Escola, de que deve justamente salientar-se, sem desprimor, o Diretor Adolfo Marques Leitão, cuja identidade se confunde com a da própria Escola.
Marques Leitão assegurou o cargo durante 36 anos ou seja, desde 1890 até 1926, tendo acompanhado as vicissitudes das mudanças do Regime e seus reflexos na própria condução do ensino. Reconhecido como grande pedagogo, ainda que monárquico e amigo pessoal de reis, acima das ideologias, foi reconduzido no cargo mesmo após o limite de idade, por deferimento do Presidente da República, Teixeira Gomes, ainda que monárquico e amigo pessoal de reis. A sua presença discreta domina, subtilmente, o ambiente desta Sala.
Leopoldo Battistini é o nome que designa o espaço da Sala-Museu, no 4º Piso. Confunde-se no simbolismo, de que é memória, o espólio do professor e artista que, italiano de nascença e formação, se tornou português pelos sentimentos.
Conhecer a sua biografia, a partir do momento que entra em Portugal, como técnico especializado ao serviço do governo e do ensino português, é conhecer a própria história do nosso ensino industrial até a década de 30. Por outro lado, visitar a Sala que lhe é dedicada é revisitar a ESMP e a sua História.
O espaço consagrado à «Sala-Museu» da nossa Escola reúne parte do espólio artístico de Leopoldo Battistini (1865-1936). Italiano de nascimento, todavia português de coração, Battistini ensinou pintura e mais tarde cerâmica, de 1903 a 1930, por determinação ministerial, no antigo edifício da nossa Escola, à época na Rua do Conselheiro Pedro Franco, mais tarde denominada Rua dos Lusíadas. A Sala-Museu Leopoldo Battistini foi inaugurada no dia 12 de Junho de 1969, sob a égide do então Chefe de Estado, Almirante Américo Tomás, graças a uma doação feita por Maria de Portugal, discípula dilecta do artista, cuja obra é vasta e se encontra dispersa pelo nosso país.
Deste valioso património artístico constam, como é natural, essencialmente obras de Battistini, representativas das várias fases da sua produção (pré-rafaelista a simbolista) e em toda a sua diversidade: pinturas a óleo e a pastel, obras de faiança e de azulejaria, estudos vários a carvão e a pastel e também reproduções de obras de vulto. Merecem destaque a edição de 1896 do poema de Eugénio de Castro – «A Nereida de Harlém» -, com iluminuras do artista, e um jarro em faiança, esmaltado a verde e ornado a preto, alusivo à mesma obra. São ainda dignos de menção composições de Maria de Portugal, um retrato a óleo de Battistini, da autoria de Carlos Reis, e estudos de alguns dos seus discípulos, como Alexandrina Chaves, Armando Lucena e Theodoro Ferreira.
Todas as obras se encontram devidamente inventariadas, numeradas, descritas, etiquetadas e arquivadas em pastas próprias, como se pode constatar numa visita à Sala-Museu e no volume de inventário, pertença da nossa Escola.
Pretende-se que este espaço desempenhe uma função de natureza cultural e social, permanecendo ao alcance de todos os elementos da comunidade escolar. É assim que regularmente são efectuadas visitas guiadas à nossa Sala-Museu, visando a divulgação de um tão precioso tesouro artístico.
Espaço de recolhimento, de oração e de celebração, a capela da nossa Escola prima quer pela singeleza e harmonia de concepção, quer pela beleza e perfeição da execução. Situada mesmo em frente do Museu Leopoldo Battistini, no quarto piso, surge como o seu espelho artístico, sendo o painel central e a cercadura em azulejaria da autoria do artista jesiano (ver Sala-Museu Leopoldo Battistini). Como a Sala-Museu, a Casa de Oração abre as suas portas a todos aqueles que manifestem o desejo de a visitar. Nela são celebradas missas festivas ou de carácter fúnebre, de acordo com as exigências de cada ocasião.
A Biblioteca reflete (refleti-lo-ia ainda mais, não fora a delapidação sempre inevitável a que o tempo nos sujeita) a mentalidade e a cultura média nacional, desde a criação desta Escola até a década de 70. Por ali, ainda resistem obras exemplares e únicas que falam por si, e dos que fazem a história do ensino, entre nós.
Outra figura carismática, muito viva entre os antigos alunos, devido a sua marcada presença e personalidade, é a do Eng.º Lino Jorge cuja Direção aconteceu entre 1935 e 1957, ano da sua morte.
Foram ainda diretores o Eng.º Dinis Sampaio (entre 1929 e 1934) e o pintor Conceição e Silva (1 ano como diretor interino), além do primeiro diretor, nomeado e logo substituído, por motivo de doença, Higino Pinto de Almeida.
Na transição entre a antiga Escola de Alcântara e o novo edifício, nas Salésias, empenhado no perfil “moderno” que pretendeu imprimir-lhe, esteve na Direção da ESMP o Dr. Januário dos Santos Pinheiro que ocupou o lugar de 1957 a Maio de 1974.
Sem referência a caracteres ideológicos próprios, é indesmentível a dedicação de todos estes Professores, cuja memória ainda vive, não obstante as suas diferenças, nos elementos da Associação dos Antigos Alunos, sempre prontos a recordar bons e maus momentos.
À ESMP se ficou a dever a formação de inúmeros técnicos que aplicaram vidas e saberes pela causa do desenvolvimento do país. Este mérito foi reconhecido, oficialmente, aquando da outorga da Condecoração, como membro honorário da Ordem da Instrução Pública, pelo Senhor Presidente da República, a 20 de Outubro de 1990.
Com um perfil a crer manifestar-se e redefinir-se na atual procura de soluções para o ensino em Portugal, pode afirmar-se que a ESMP continua a oferecer, a todos os que a procuram, o seu melhor, num esforço comum que abrange docentes, alunos, pessoal administrativo e auxiliar de ação educativa.
A ESMP é portadora de uma identidade própria e de uma singular dignidade, forjadas na experiência do tempo, que a atual comunidade escolar orgulhosamente assume. Possui uma memória coletiva e uma herança pedagógica temperadas pelo contributo empenhado de sucessivas gerações de professores, alunos e funcionários.
O inevitável processo histórico provocou sucessivas mudanças na educação em Portugal, alterando sistemas e métodos, desafios aos quais a ESMP, então como agora, sempre soube corresponder, tendo, então como hoje, a perspetiva prioritária da formação adequada e integral dos nossos jovens como alunos e cidadãos.
Permanecendo fiel à matriz que está na sua origem e tem marcado o seu percurso educacional, a ESMP pretende prosseguir um tempo e um espaço pedagógicos marcadamente inovadores e determinados por uma gestão democrática e participativa, por uma cada vez melhor qualidade de ensino e de formação, orientando a mediação educativa por uma cultura crítica de escola que privilegie aprendizagens significativas e funcionais.